quinta-feira, abril 05, 2007

Ritos de passagem

Durante comemorações religiosas, sempre fico tentada a falar sobre elas mas tenho que explicar o primeiro ponto: não sou católica, judia, nem cristã. Por isso, para mim, a Páscoa (motivo deste texto) não tem significado algum. Como carne vermelha na sexta-feira santa, se tiver vontade. Não há pecado algum nisso! (pelo menos, para mim) Mas eu sei que a maioria não é como eu e respeito isso. Tento influenciar-me de todas estas comemorações para tirar algo de bom. Alguma lição além da religiosidade pura e simples. Embora, este ano, penso que a coincidência entre as páscoas judaica e cristã deva fazer o cosmo pirar!

Imagine o número de fiéis num único coro de fé! Embora não seja religiosa, sempre fico emocionada ao ver um fiel em devoção. As lágrimas, na maioria das vezes, são genuínas. Os olhos fechados em oração, fazem com que elas caiam sofridas de dor... e penso. Será mesmo que esta pessoa está pensando em Cristo na cruz ou deixando extravazar um problema particular qualquer? Seja como for, ver alguém chorar sempre me emociona...

Para que a Páscoa não passe em branco (ou em preto, porque chocolate é bom em qualquer cor), comparo estas comemorações com "os ritos de passagens". Afinal, morrer não é uma passagem? Ou, para os judeus, o êxodo do Egito não foi uma passagem? E vejo que, coincidentemente, estou eu - particularmente - também num período de grande passagem, que não preciso aqui explicar. Mas, finalmente, encontrei um significado para, neste ano, refletir dentro de um espírito de co-existência com o resto do mundo. Sim, porque na maioria das vezes sinto-me totalmente na contra-mão dele (embora a minha "passagem" esteja - de novo - contrária ao que todos têm procurado para si).

Sendo assim, caro leitor, convido-o a manter suas tradições, se assim o preferir, mas não deixe de, nesta Páscoa, pensar nas passagens que a vida lhe proporcionou (e ainda proporcionará).

Do nascimento à morte, é uma passagem atrás da outra. Nascer já é uma passagem... por um canal estreito ou pelo ventre mesmo. Passamos da infância para a adolescência, outro momento difícil, cheio dúvidas e medos. Tornar-se adulto é tarefa ainda pior. Deixar para trás a alegria da adolescência e encarar a vida como ela é. Tornar-se idoso, ainda mais neste país, é outro desafio ainda mais cruel. Mas no final de cada passagem, o alívio e a confiança de que, se "passei por isso, nada mais me segura".

No trabalho, não faltam passagens. De um cargo para o outro, de um departamento para o outro, de um chefe para outro. Nos relacionamentos, idem. O que estas passagens têm em comum? O final de um ciclo, início de outro e sem retorno. Sem olhar no retrovisor, lamentar-se ou arrepender-se. ((Lembrei-me agora de minha professora de teatro, Nicionely de Carvalho. Uma de suas personagens dizia "é passado, ido, fosto!" .... fosto é ótimo! Mas é assim que tem que ser.)) Refletir sobre as passagens não é lamentar-se mas sempre se projetar para um futuro melhor.

E esta é a minha mensagem de Passagem-Páscoa para você. Enfrente-as sempre como um degrau a mais para atingir o seu objetivo. Que este degrau não resulte no sofrimento de ninguém ou, se for (mesmo que não seja intencional), que este outro encare também como uma passagem para o melhor.

Que a sua felicidade seja contagiante, que a sua vida seja cheia de fins e recomeços, porque triste mesmo é ficar parado vendo a vida passar!