terça-feira, março 13, 2007

Onde estava Deus naquela hora?

A polícia de Joinville prendeu, na manhã de segunda-feira (12.03), o assassino da menina Gabrielle Cristina, de apenas um ano e sete meses. Ela foi estuprada, estrangulada e deixada à beira da morte dentro da pia batismal de uma Igreja Adventista durante um culto, naquela cidade, na manhã de sábado (03.03) .

Começo este texto com cara de reportagem de jornal mas em meu rosto correm lágrimas de uma mãe, cuja filha, da mesma idade, pode ser a próxima vítima. Talvez não de um crime tão cruel (e qual crime não o é?), mas de uma bala perdida, de um maníaco qualquer, de um atropelamento e de todos os riscos que correm qualquer cidadão comum. E, por isso, eu não consiga seguir as regras do “jornalismo e da ética”. Ao invés disso, despejo sobre estas linhas uma revolta que me persegue há tempos, resumida no título deste artigo.

Neste caso específico, assim como todos os casos que envolvem crianças, a dor que sinto é mísera perto da que os pais desta e de todas as outras vítimas devem sentir.

Uma amiga, que perdeu o filho aos 20 anos baleado em uma lanchonete, disse “todas as mães podem dizer que imaginam o que eu devo estar passando. Mas não imaginam não. É muito pior do que isso”. Por isso, não ouso dizer que “imagino” a dor da mãe de Gabrielle, de João Hélio, de Alana (vítima de bala perdida no RJ), de Priscila (cuja bala perdida a sentenciou a uma cadeira de rodas), de Luciana Novaes (com o mesmo futuro de Alana), de Liana Friedenbach, de Felipe Café, de Gabriela Prado, de Rodrigo Damus, de Georgio Renan, de Hermes Thadeu, e de milhares de vítimas que surgem a cada minuto neste país e no mundo.

Não. Eu não imagino esta dor. Mas choro diante de tudo isso simplesmente em pensar em como seria se tivesse acontecido com um de meus filhos. Se esta dor que sinto neste momento já me arrasta para um choro compulsivo de medo e angustia, o que dizer a estes pais? O que dizer a estes monstros que puxam um gatilho, torturam, estupram e matam pessoas inocentes?

O acusado da morte da pequena Gabrielle chegou na delegacia sob um forte esquema de segurança. Ele teve seus direitos protegidos pela polícia. Direitos que Gabrielle não teve e nenhuma das outras vítimas também não. O direito à vida, à segurança, ao ir e vir.

Quero crer que a polícia, naquele momento, tinha a mesma vontade que nós. De soltá-lo à multidão para que ela acabasse com ele, ali mesmo. Quero crer que depois de preso, este monstro tenha anos de sofrimento que o faça lembrar o horror vivido por aquela pequena garotinha inocente que brincava em uma igreja. Uma criança cuja maior maldade que poderia lhe passar pela cabeça (em seus poucos meses de vida) no máximo seria uma birrinha, de vez em quando.

Gabrielle passou da inocência para a crueldade humana em segundos. Viveu um terror que nenhum de nós pode imaginar.

Se existe mesmo um Deus (que não olhou por ela naquele momento), que este ser a recompense de alguma maneira pela tortura sofrida. Embora, infelizmente, acredito que não haja remédio algum para este sofrimento.

E, se existe um Deus, que permitiu que o “livre-arbítrio” levasse um monstro a fazer o que fez, que este ser faça justiça sobre a mente e o corpo desta abominável criatura que disse “não se lembrar de nada porque estava bêbado”.

Sei que desabafos como este remetem a questões religiosas de cada um e não pretendo debatê-los. Quem quiser, que o faça em seus comentários.

Neste momento posso ouvir uma outra amiga dizendo “Tira esse ódio do coração...”. Ela diz isso com um sorriso nos lábios, é uma brincadeira entre nós, mas não consigo sentir nada além de ódio mesmo diante de situações assim. Que o assassino terá seus momentos críticos na prisão, eu não tenho dúvidas. Mas isso não aliviará a dor dos pais de Gabrielle e nunca responderá a pergunta: onde estava Deus naquela hora?

Talvez exista um Deus que tenha colocado a polícia na pista certa para prender aquele monstro, na pista certa para pegar os assassinos de João Hélio. Um Deus um tanto atrasado, na minha opinião.

Sei que o debate vai além da religião e sim na falta de segurança pública e privada, no caso de Gabrielle, que estava dentro de uma igreja, cuja segurança cabia à instituição. Mas, não me surpreenderá nem um pouco se, ao longo das notícias, soubermos que o pedreiro que a matou já tinha um histórico de pedofilia, havia sido solto ou coisa parecida.

Neste momento, só consigo pensar no tão poderoso Deus que algumas religiões pregam ser onipresente e que tem como missão cuidar de seus filhos, tementes a Ele.

Aliás, não era este o caso de Gabrielle que, estava em uma igreja, ou melhor, na casa d’Ele mesmo?