quinta-feira, março 22, 2007

Saudades de uma infância feliz

((depois de ler este texto, acesse o link ao final dele e veja o quanto a infância pode ser roubada. A crueldade humana toma proporções impressionantes! A história merece comentários...))

Saudades de quando eu brincava na rua,
andava de rolimã
(caía, na maioria das vezes),
ia sozinha para a escola,
passava a tarde no parquinho,
assistia Vila Sésamo e achava o máximo!

Meu ídolo era o Zorro que,
embora justiceiro,
nunca matava ninguém.

Minha maior preocupação
era a lição de casa.
E meu maior pesadelo,
uma tartaruga gigante
que se escondia atrás da porta.
Sim, este pesadelo era freqüente
e nunca fui ao psicólogo por isso.

Quando saía de casa,
minha mãe sempre me achava,
embora não houvesse celular.

Nos finais de semana,
ia pra cama cedinho
à espera do pic-nic
no Cristo Redentor de Águas da Prata,
uma cidadezinha vizinha
de onde eu nasci.

Os anos passaram,
tornei-me adolescente,
rebelde, feliz, moleca, sapeca
e amadureci.

Que triste foi dizer adeus
a tempos tão bons.

E lá se vão quarenta anos!

Que saudades de tudo isso
quando olho para os pequeninos de hoje
que não têm os mesmos medos,
nem a mesma rotina.

Muito menos a ausência de ansiedade,
pois naquela época,
não havia muito o que ansiar.

A infância do novo século é rápida.
Passa voando diante dos olhos
até mesmo das próprias crianças,
que deixam de ser meninas mais cedo.

Os medos de hoje são outros.
Temem perder os pais,
temem seqüestros,
balas perdidas,
assaltos e até a polícia.

A infância saudável se foi
e nós, pais de uma geração diferente,
tentamos trazer para dentro de casa
a inocência perdida.

Chamamos nossos filhos de "bebês" e "princesas",
cantamos cantigas dos nossos tempos
para não nos perdermos a nós mesmos.

Porque, até para nós
a vida está passando
depressa demais.

Depressa e arrastada....
incoerência?
Nem tanto.

O adulto de hoje corre pra lá,
corre pra cá,
parece tudo muito agitado.
Mas no fundo,
arrasta o dia pra chegar em casa.

Arrasta a dívida para o final do ano,
para o décimo terceiro,
a restituição do imposto de renda.

Arrasta o casamento,
arrasta a barriga
cheia de fast food.

Arrasta o patrão goela abaixo.

Arrasta o tempo,
pra depois olhar pra trás
e sentir saudades
do tempo que passou,
e que ele não viveu.

Porque o hoje
tornou-se o ontem
de amanhã.

O mundo moderno precisa parar.
Dar um basta na destruição do planeta,
na degradação do ser humano,
na falta de respeito para com o próximo.

Proteger a família,
sem que isso signifique
esconder-se atrás de grades e câmeras
mas sim, amarem-se mais,
serem mais próximos
e terem mais tempo para conversar.

Desligar o computador por algumas horas,
sentar-se à mesa nas refeições
e fazer delas um encontro gostoso.

Colocar tudo em dia,
para que o dia seguinte
comece melhor.

É difícil, eu sei.
Mas sonhar é tão bom!

Meu avô,
aos 90 anos,
me disse uma vez:
nunca pare de fazer planos
pois quando não se espera
mais nada da vida,
é porque ela acabou para você.

Planos, eu não paro de fazer
mas, por alguns instantes,
paro para pensar.

Porque todos os dias
temos a chance de mudar.

Hoje,
único dia em que minha filha pequena
sairá da escola mais tarde,
preenchi o tempo com muitas coisas atrasadas.

Cancelei tudo.

Dá licença,
vou aproveitar e dormir.

Não quero me arrastar no final do dia.

Quero sentar-me com ela no chão,
jogar bola,
ouvi-la cantar
num blá-blá-blá indecifrável.

Quero ser criança com ela,
que ainda não sabe
o quão rápido
tudo isso passará.

(( Menino de 2 anos é mantido preso em canil com 3 pit bulls em SP - surgem novas informações))

terça-feira, março 13, 2007

Onde estava Deus naquela hora?

A polícia de Joinville prendeu, na manhã de segunda-feira (12.03), o assassino da menina Gabrielle Cristina, de apenas um ano e sete meses. Ela foi estuprada, estrangulada e deixada à beira da morte dentro da pia batismal de uma Igreja Adventista durante um culto, naquela cidade, na manhã de sábado (03.03) .

Começo este texto com cara de reportagem de jornal mas em meu rosto correm lágrimas de uma mãe, cuja filha, da mesma idade, pode ser a próxima vítima. Talvez não de um crime tão cruel (e qual crime não o é?), mas de uma bala perdida, de um maníaco qualquer, de um atropelamento e de todos os riscos que correm qualquer cidadão comum. E, por isso, eu não consiga seguir as regras do “jornalismo e da ética”. Ao invés disso, despejo sobre estas linhas uma revolta que me persegue há tempos, resumida no título deste artigo.

Neste caso específico, assim como todos os casos que envolvem crianças, a dor que sinto é mísera perto da que os pais desta e de todas as outras vítimas devem sentir.

Uma amiga, que perdeu o filho aos 20 anos baleado em uma lanchonete, disse “todas as mães podem dizer que imaginam o que eu devo estar passando. Mas não imaginam não. É muito pior do que isso”. Por isso, não ouso dizer que “imagino” a dor da mãe de Gabrielle, de João Hélio, de Alana (vítima de bala perdida no RJ), de Priscila (cuja bala perdida a sentenciou a uma cadeira de rodas), de Luciana Novaes (com o mesmo futuro de Alana), de Liana Friedenbach, de Felipe Café, de Gabriela Prado, de Rodrigo Damus, de Georgio Renan, de Hermes Thadeu, e de milhares de vítimas que surgem a cada minuto neste país e no mundo.

Não. Eu não imagino esta dor. Mas choro diante de tudo isso simplesmente em pensar em como seria se tivesse acontecido com um de meus filhos. Se esta dor que sinto neste momento já me arrasta para um choro compulsivo de medo e angustia, o que dizer a estes pais? O que dizer a estes monstros que puxam um gatilho, torturam, estupram e matam pessoas inocentes?

O acusado da morte da pequena Gabrielle chegou na delegacia sob um forte esquema de segurança. Ele teve seus direitos protegidos pela polícia. Direitos que Gabrielle não teve e nenhuma das outras vítimas também não. O direito à vida, à segurança, ao ir e vir.

Quero crer que a polícia, naquele momento, tinha a mesma vontade que nós. De soltá-lo à multidão para que ela acabasse com ele, ali mesmo. Quero crer que depois de preso, este monstro tenha anos de sofrimento que o faça lembrar o horror vivido por aquela pequena garotinha inocente que brincava em uma igreja. Uma criança cuja maior maldade que poderia lhe passar pela cabeça (em seus poucos meses de vida) no máximo seria uma birrinha, de vez em quando.

Gabrielle passou da inocência para a crueldade humana em segundos. Viveu um terror que nenhum de nós pode imaginar.

Se existe mesmo um Deus (que não olhou por ela naquele momento), que este ser a recompense de alguma maneira pela tortura sofrida. Embora, infelizmente, acredito que não haja remédio algum para este sofrimento.

E, se existe um Deus, que permitiu que o “livre-arbítrio” levasse um monstro a fazer o que fez, que este ser faça justiça sobre a mente e o corpo desta abominável criatura que disse “não se lembrar de nada porque estava bêbado”.

Sei que desabafos como este remetem a questões religiosas de cada um e não pretendo debatê-los. Quem quiser, que o faça em seus comentários.

Neste momento posso ouvir uma outra amiga dizendo “Tira esse ódio do coração...”. Ela diz isso com um sorriso nos lábios, é uma brincadeira entre nós, mas não consigo sentir nada além de ódio mesmo diante de situações assim. Que o assassino terá seus momentos críticos na prisão, eu não tenho dúvidas. Mas isso não aliviará a dor dos pais de Gabrielle e nunca responderá a pergunta: onde estava Deus naquela hora?

Talvez exista um Deus que tenha colocado a polícia na pista certa para prender aquele monstro, na pista certa para pegar os assassinos de João Hélio. Um Deus um tanto atrasado, na minha opinião.

Sei que o debate vai além da religião e sim na falta de segurança pública e privada, no caso de Gabrielle, que estava dentro de uma igreja, cuja segurança cabia à instituição. Mas, não me surpreenderá nem um pouco se, ao longo das notícias, soubermos que o pedreiro que a matou já tinha um histórico de pedofilia, havia sido solto ou coisa parecida.

Neste momento, só consigo pensar no tão poderoso Deus que algumas religiões pregam ser onipresente e que tem como missão cuidar de seus filhos, tementes a Ele.

Aliás, não era este o caso de Gabrielle que, estava em uma igreja, ou melhor, na casa d’Ele mesmo?